sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A Bíblia está em conflito com a Ciência?


Os conflitos entre a religião e a ciência devidos à revolução científica e tecnológica talvez tenham sido o principal fator para a perda da credibilidade das Escrituras. Quase todos nós na escola estudamos a respeito da condenação de Galileu. Esse astrônomo e físico italiano foi condenado por ensinar que o Sol era o centro do nosso sistema solar (heliocêntrico), contrariando a noção aceita de que a Terra era o centro do mesmo (Sistema geocêntrico). Os bispos da Igreja no tempo de Galileu recusaram-se a olhar em seu telescópio e examinar a evidência de que a Terra não é na verdade o centro do nosso sistema solar. A igreja sente ainda o impacto constrangedor desse episódio.


Alguns afirmam que a Bíblia ensina uma visão da realidade conflitante com os resultados obtidos pela pesquisa científica moderna. Outros alegam que ela transmite uma noção primitiva, pré-científica do universo que não pode mais ser aceita pelo homem contemporâneo. A Bíblia descreve o universo como tendo "três pavimentos": o céu em cima, a terra no meio, e o inferno debaixo desta. Ela descreve um mundo de demônios e anjos considerando em conflito com as modernas teorias da física e da biologia.


Como o cristão responde a declarações desse tipo? Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a igreja cometeu de fato erros graves ao extrair inferências científicas das Escrituras, sem que houvesse justificação para as mesmas. A Bíblia não ensina em ponto algum que a Terra seja o centro do universo. Ela descreve a natureza de uma perspectiva fenomenológica, isto é, o mundo da natureza é descrito como aparece a olho nu. O Sol é descrito como se movendo através dos céus. A Bíblia fala de alvoradas e ocasos e na linguagem popular os cientistas modernos continuam desse modo. Basta observar as previsões do tempo diárias para se chegar a essa conclusão. O boletim meteorológico é apresentado em linguagem técnica e científica, falando de sistemas de alta pressão, pressão atmosférica, probabilidades de precipitação, etc. Todavia, no final do boletim é nos dito que o Sol nascerá numa determinada hora e se porá em outra. Não telefonamos à estação de rádio e exigimos imperiosamente que tais noções antiquadas de geocentricidade sejam omitidas da previsão do tempo. Não acusamos os cientistas de não estarem sendo científicos quando descrevem as coisas do mundo fenomenológico. Os escritores bíblicos também não merecem tal acusação.


A Bíblia fala evidentemente de um mundo demoníaco, mas ela não ensina que as doenças e outras enfermidades misteriosas sejam causadas por atividades demoníacas. As Escrituras reconhecem e endossam a prática da medicina. Eu poderia acrescentar que a noção da existência de um mundo demoníaco não entra em conflito com qualquer lei científica natural conhecida.


A Bíblia não é um manual científico. Ela não pretende instruir-nos a respeito de Matemática, Física ou Química. Existem, no entanto, ocasiões em que surgem sérios conflitos entre teorias inferidas de ensinos bíblicos e científicos. Por exemplo, se um cientista concluir que um acidente cósmico deu origem ao homem, sua colocação contraria frontalmente os ensinos das Escrituras. Mas a origem do homem jamais poderá ser determinada pelo estudo da Biologia, pois trata-se de uma questão de história. O biólogo tem condições de descrever como as coisas poderiam ter acontecido, contudo, nunca poderá dizer-nos como elas realmente ocorreram.



Robert Charles Sproul