Seguir Jesus realmente deveria ser “o mais fascinante projeto de vida”. Mas no evangelicalismo atual encontramos muita conversa sobre Cristo e pouco discipulado real. Isso não deveria nos surpreender, pois o próprio Jesus profetizou tal fato (Mt 7.21). Uma das razões dessa triste condição da igreja atual é a doutrina defeituosa que impera em muitos círculos cristãos. Essa doutrina separa fé do discipulado e graça da obediência. O teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer chamou essa doutrina de graça barata, em contraste com a graça cara que encontramos nos evangelhos. Segundo Bonhoeffer, a graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, batismo sem disciplina eclesiástica, comunhão sem confissão, graça sem a cruz e cristianismo sem
relacionamento com o Cristo vivo e encarnado. Contrastando essa mistificação barata, temos a graça cara do evangelho. A graça é cara porque nos chama a um discipulado, ou seja, a seguir Jesus e, ao mesmo tempo é graça, porque nos chama a seguir a Cristo.1 Cabe a cada cristão refletir o quanto está envolvido na expressão “seguir a Jesus”. À luz das Escrituras podemos dizer que esta expressão implica em: 1. Arrependimento. Jesus disse que veio para “chamar pecadores ao arrependimento” (Lc 5.32). Logo, a fim de seguir o Cristo Santo e Reto, os pecadores devem voltar as costas para o pecado e caminhar em direção à retidão. É verdade que, enquanto nesse mundo, o cristão ainda peca. Porém, o mesmo não permanece na prática do
pecado e não alimenta o prazer em uma vida de pecado, mas arrependido pelos seus pecados, o cristão busca a graça e fortalecimento divino contra as tentações; 2. Obediência. Sem obediência não há cristianismo verdadeiro. As pessoas não podem seguir Jesus seletivamente, ou seja, apenas em algumas áreas. Jesus disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama” (Jo 14.21). Esta obediência será demonstrada através de uma submissão diária;
3. Compromisso. É impossível seguir Jesus sem se comprometer com ele. Nesse assunto ninguém pode lavar as mãos como Pilatos. Não há neutralidade. Por outro lado, ninguém pode estar realmente comprometido com ele sem seguí-lo verdadeiramente; 4. Persistência. Seguir a Cristo não é um ato isolado, feito uma vez e nunca repetido. Ao contrário, isso é um compromisso para toda a vida, o qual só será cumprido quando a coroa for recebida. O convite de Jesus para o discipulado é geral, mas poucos são os que realmente andam por este caminho estreito!
Rev. Valdeci da Silva Santos
Pastor da Igreja Evangélica Suíça de São Paulo e Professor do CPAJ
1 Dietrich Bonhoeffer, The cost osf discipleship (Nova York: Macmillan, 1966), 47.