sábado, 27 de fevereiro de 2010

SOBRE UM MENINO EM SERRA LEOA

"Com tremendos feitos nos respondes em tua justiça, ó Deus, Salvador nosso, esperança de todos os confins da terra e dos mares longínquos;" (Salmo 65:5)

Franklyn era um menino na época em que viu o horror diante de seus próprios olhos. Menino baixo e magro, como tantos outros meninos de sua terra, ele estava no colégio quando a guerra chegou até ele.
Em 1991, no meio da sangrenta guerra civil, rebeldes invadiram, saquearam e destruiram a escola onde Franklyn estudava.
A guerra civil em Serra Leoa foi simplesmente uma das mais brutais do final do século XX. Não somente em estupros, execuções ao ar livre, e listas gigantescas de leis internacionais sendo violadas, mas também por um dado macabro; decepar braços e mãos era prática comum, não bastava matar, era preciso acabar com os recursos escassos do indivíduo até sua capacidade de se mover.
Não querendo ser parte desse horror, Franklyn e seus professores e colegas rastejaram. Rastejaram fugindo dos terríveis homens e seus facões. Alguns foram pegos, outros fugiram.
Seu irmão desapareceria por oito anos. O menino veria os horrores e perderia sua infância para se tornar um homem calado e silencioso.
Momentos assim são capazes de arruinar a vida de qualquer um. Ainda fugindo, ele foi pego numa esboscada onde por pouco não perdeu ambos os braços. Viveu para ver os horrores e ver seus temores mais sombrios serem realizados.
Seus amigos não sobreviveram para contar a história. Seu irmão desaparecido, ficou vivendo no meio do mato por oito anos, sozinho.
Dentre esses jovens que partiram deste mundo de forma tão dolorosa, Franklyn havia sobrevivido. Talvez os leitores mais cínicos usariam sua história para dizer que não há um Deus, como se o sofrimento e o mal deste mundo fossem magicamente alguma razão válida para a inexistência de Deus. Estes cínicos deveriam falar menos e ouvir mais homens como Franklyn que pode ser um indivíduo calado e sério, mas não é um cínico.
Para Franklyn; sua experiência de vida lhe mostrou uma coisa; a bondade de Deus.
Ele que viveu tantos horrores, entendeu que havia um motivo para Deus ter feito ele sobreviver E ele respondeu a esse motivo.
Dentre os meninos que morreram naquela terrível guerra, Deus salvou um. Talvez não seja muito numericamente falando, mas Deus não vê somente números. Agora, crescido. Franklyn é meu colega de quarto no seminário. Anteontem ele se tornou pai. E ele fala com paixão de como Deus o salvou para dar esperança à essa nova de geração de órfaos de sua amada terra natal.
Ele sabe o que fazer.
Quando surgem notícias de tragédias e horrores nunca faltam os que usam de maneira distorcida o sofrimento para culpar a Deus. Mas para aqueles que se chacoalham com tais coisas, recomendo essas pessoas a verem não somente a tragédia , mas também a vida individual de cada indivíduo na medida do possível. Franklyn entendeu isso e me fez ver meus próprios problemas sob uma nova perspectiva.
Os horrores que presenciamos do terremoto chinês, do tsunami indonésio, da queda do avião da Air France, do terremoto haitiano são reais, são terríveis e dolorosos. Mas ver somente a foto de uma mãe , ou de uma criança desesperada e ter empatia não basta. Pergunte-se o que acontecerá e, anos depois, o que aconteceu com essas pessoas. Ore por elas, pois sabemos que é da vontade de Deus que façamos isso por essas pessoas. Quem sabe Deus está preparando um menino para trazer esperança a essa nação, mesmo após as cortinas serem abaixadas e o mundo novamente se esqueça do Haiti, ou da Indonésia, ou da Serra Leoa.

Fonte: http://indexreformado.blogspot.com/#uds-search-results