sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Decibéis e Fé - Cuidando da Alma e do Ouvido

Os cultos nas igrejas evangélicas e as missas nas igrejas católicas estão se tornando cada vez mais barulhentos. Nos mega-eventos e congressos, por sua vez, toneladas de som sacodem os ouvintes.Os ruídos aumentaram na congregação: os adoradores conversam cada vez mais e os cantores exigem som cada vez mais amplificado. Alguns estudiosos da
sensibilidade auditiva têm expressado suas preocupações com o futuro dos frequentadores destes cultos, quanto à sua saude física e mental. Nosso país é barulhento: motos sem
escapamento, motores de ônibus desregulados, automóveis com caixas de som pesadíssimas. Cláudio de Moura e Castro, em um artigo na Revista Veja, afirmou que os adoradores modernos "confundem decibéis com fé". Encontrei um artigo escrito por um adorador que dizia: “Quando vou ao templo, vou ao encontro do Criador e de meus irmãos. Sempre imagino um ambiente silencioso, aconchegante, que contribua para acalmar os achaques de
minha alma. Em algumas ocasiões, entretanto, senti-me obrigado a sair, ou no mínimo, a me afastar dos primeiros bancos, onde, na maioria das vezes, ficamos expostos a quilos de decibéis nada crentes.” Seria, verdadeiramente, possível adorar a Deus num ambiente tumultuado, com vaivém constante de pessoas, gente falando todo o tempo, cantores
embalados por orquestras retumbantes e caixas de sons tronitoantes? Alguns ficam
calados porque se imaginam que estejam mesmo, pois não se pode recriminar o
gosto pessoal de quem quer que seja. “Eles gostam deste jeito, então o jeito é ficar e se adaptar ou sair.” Mas outros se perguntam: “Será que o templo, construido para a
adoração a Deus, deveria ser um lugar insalubre? Lugar onde o som é tal que acabe ameaçando os meus ouvidos de surdez? Onde eu possa estar exposto a um ataque de desequilíbrio emocional, onde eu seja ameaçado de perder o senso e entrar em êxtase? A
Organização Mundial de Saúde afirma que, dependendo do tempo de exposição, o limite de decibéis que faz mal à saúde é 65. Um liquidificador produz 85 decibéis. Ruído excessivo aumenta a adrenalina e a pressão arterial, estimula o estresse e a insônia. O excesso de ruído já levou cerca de 10 milhões de cidadãos americanos à perda da audição ou parte dela. Aqui no Brasil não temos estatísticas, mas o barulho e o ouvido deles não devem
ser diferentes dos nossos. Gente surda e com zumbido passou a ser um mal bastante comum nos nossos dias. Em relação aos freqüentadores dos cultos, os efeitos psicológicos do
excesso de ruído são preocupantes. Os especialistas falam em perda de concentração (imprescindível num culto racional), irritação permanente, perda da inteligibilidade das palavras, dor de cabeça, fadiga, zumbido no ouvido e loucura. O excesso de ruído provoca interferências no metabolismo de todo o organismo, com risco de perda auditiva irreversível. A partir de 85 decibéis, não importa se o som é agradável ou não, se é produzido por música rock ou sacra, ele é, de qualquer modo, prejudicial ao corpo e em especial à audição. Quando estudava no Seminário em Campinas, todas as manhãs, tínhamos
nossas devocionais. Era um momento sublime com Deus. Os cânticos dos hinos, entoados com fervor pelos seminaristas, acompanhado de um velho órgão de fole, ressoava pela vizinhança. Certa vez, recebemos em nosso Seminário uma senhora, juntamente com seu esposo e filhos, que veio agradecer o bem que aqueles cânticos faziam ao coração dela e de sua família. Ela não conseguia, à distância de sua casa, distinguir as letras, mas ela afirmou: “Eu sei que estes hinos são para Deus, dada a sublimidade da melodia e da harmonia e como vocês cantam”. Cantarolou um dos hinos para nós, que ela ouvira algumas vezes e pediu que o cantássemos na próxima manhã em nossa devocional. O que os hinos e cânticos, instrumentos sonoros e percutivos de nossas igrejas evangélicas produzem em
nossos vizinhos? Por que os imóveis próximos aos templos, em geral, têm baixa cotação no
mercado imobiliário? Por que será que quando uma igreja pretende construir um templo em algum lugar, a associação de moradores daquele bairro faz tanta pressão para impedir que isto aconteça? Em várias cidades de nosso país, existem leis reguladoras do barulho.
Não devemos confundir alegria com barulho, decibéis com fé.

Rev. Ludgero Bonilha Morais
Extraído do Boletim Dominical de 01 de Novembro de 2009.
1ª Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte.
http://www.primeiraipbh.org.br/